

Acrílico sobre tela, 100x60 cm

Acrílico sobre tela, 30X21 cm

Acrílico sobre tela, 30X21 cm

Acrílico sobre tela, 30X21 cm

Acrílico sobre tela, 30X21 cm

Acrílico sobre tela, 30X21 cm

Acrílico sobre tela, 30X21 cm

Acríco sobre tela, 100x80 cm

Acrílico sobre tela, 120x120 cm

Acrílico sobre tela, 21x16 cm

Acrílico sobre tela, 21x16 cm

Acrílico sobre tela, 21x16 cm
As cadeiras ou a aventura da representação
Quando as crianças riscam as suas representações iniciais, após garatujas aparentemente enigmáticas, o mundo torna-se planificável, os objectos desdobram-se, as mesas e as cadeiras, num realismo lógico, apresentam pernas de facto perpendiculares aos seus tampos, em ângulos rectos, na mais “radical” radical das desocultações descritivas. Essa escrita “pura”, fascinante, alinhada e desobediente às leis da Natureza, e na qual o maravilhoso começa bem cedo a encher de sonhos os mais diversos contextos, virá confirmar-se às razões da razão, à emergência do conceito, mas não perderá nunca o apelo pelos caminhos da invenção – espaço essencial onde o ver e o representar se associam no modo de gerar as formas, de as distorcer, de as integrar na dimensão poética da arte. Qualquer representação comporta sempre a mobilidade intrínseca do ver, a poética e a mentira do arranjo adequado das formas para que estas exprimam, enfim, a verdade. O mundo dos objectos, com efeito, não parece verdadeiro, nem crível, se apenas o copiarmos como pantógrafos humanos. Ver é compreender, julgar, reinventar. Representar é tudo isso também, mas a aventura das metamorfoses, mais a liberdade do sonho, mais o direito à abertura e à construção polissémica das formas.
Se observarmos com atenção a obra plástica de Conceição Ramos, nesta fase das suas especiais representações, poderemos verificar que a experiencia proposta, sublinhada pelo gesto, pela clareza voluntariosa do fazer, pela noção e metamorfose das escritas primárias, se radica em parte na nossa anterioridade pictórica. Mas as cadeiras, que ela representa ou associa no espaço perdem, a breve trecho, a fisionomia da sua função estrita e alcançam pouco depois a qualidade específica da forma plástica, essa espessura particular, entre memórias quotidianas e alusões por vezes antropomórficas. Em boa verdade as cadeiras passam integralmente à qualidade de personagens.
(continua)
Sketchbook | Esboços




Sem se deter na estreiteza do raciocínio que conduz apenas à metamorfose poética, nem aos percursos conceptuais entretanto pressupostos, Conceição Ramos refunde o objecto temático, sobrepõe o realismo lógico às ocultações perspécticas, redesenha todas as elementaridades, ligando cada vez mais as grandes escalas à presença simbólica e cenográfica das várias representações/encenações, uma comunidade em parte litúrgica de seres, uma teatralidade instável em lugares pensáveis, o grande universo - lúdico, diverso, texturalmente vibrante – onde cada criança em nós se recupera nos jogos de abertura ao imaginário e na saborosa nostalgia das coisas já longínqua mas que nunca morrem.
Rocha de Sousa (Crítico de Arte)
Abril de 1995
Aquele que vê
A obra plástica de Conceição Ramos, que prespassa do figurativo ao abstracto, é uma voz, um sentir e um ver pela primeira vez a realidade para além das ideias e imagens preconcebidas e cristalizadas, eivadas de ilusões de estabilidade, certezas e poderes.
Através de um fecundo esforço de libertação, ao observar e entender o mundo de, uma maneira nova, a pintora dá-nos uma expressão original da representação do objecto – cadeira, ao manipular as formas que são metamorfoseadas e transmudadas, elevando-as à condição de existência – seres vivos. No prazer da descoberta do jogo criativo das cores e das formas, percepciona-se na pintura um conflito entre o sentido tridimensional e a perspectiva bidimensional, assim como uma estrutura de equilíbrio dinâmico que geralmente contém a forma assimétrica desenhada pelo ritmo da cor, ao encontro da harmonia.
Ainda muito se têm a esperar do percurso de grande coerência da obra de Conceição Ramos, cuja brandura superficial encobre um carácter forte, emocional e persistente.
Diva Morazo (Mestre em História de Arte)
Dezembro de 1999